Vou citar alguns trechos de textos que li nos últimos dias e depois faço a síntese...Se conseguir, é claro!
"Não só tememos a diferença, como também não conseguimos conviver pacificamente com o conflito. Diante do outro, nosso instinto é de tentar eliminá-lo, acabar com a perturbação que nos causa."
Cacá Diegues, "Devolve não, Chico", In: O GLOBO, de 18/12/2010
"Ninguém nasce odiando outras pessoas pela cor de sua pele, por sua origem, ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."
Nelson Mandela
Estou muito triste e desencantada. Não é fruto desse clima de melancolia que , paradoxalmente, nos invade sempre quando chega essa época eufórica de Natal e Ano Novo. Estou triste porque me senti impotente, porque me senti participando de algo que julgo, no mínimo, perverso. Estou triste porque há exatos vinte e quatro anos venho protestando contra um estado de coisas que não consegui mudar. Sei que devemos aceitar democraticamente as decisões da maioria, mas isso não nos impede de mantermos nossa visão crítica, nem deve nos tolher o direito _ também democrático _ de expressar nossas opiniões nos mais diversos foruns.
A questão é a seguinte: Eu só acredito na educação pública e laica, e, mesmo assim, isso não quer dizer que acredite em nosso sistema educacional. Mas acho que a educação pública de qualidade deve ser obrigação do Estado e direito de todo e qualquer cidadão, e que a Escola tem o dever de manter os alunos ali dentro, custe o que custar, dê o trabalho que der, cause o incômodo que causar.
Um aluno meu foi jubilado (palavra detestável!) da escola pública de qualidade onde trabalho. Ele é pobre, é negro, é filho da violência de nosso Estado e de nossa sociedade hipócrita, que declara que a escola pública de qualidade não é para ele. Fizemos tudo o que estava a nosso alcance? Não, tenho certeza de que não. Só porque tivemos um pouco mais de paciência com ele, porque tivemos algumas ou muitas conversas com ele, não tenho a consciência tranquila de que fiz tudo por ele. Sinto-me socialmente devedora. Escola pública é para todos, não importa cor, credo, dinheiro no bolso, situação familiar, nem ( e muito menos) comportamento.
Que escola pública de qualidade é essa? A que jubila o diferente? A que ensina a odiar em vez de amar? Porque excluir, expulsar é uma forma de odiar. Não suporto mais ouvir o _ preconceituoso _ discurso de que "Esta escola não é para este aluno". E qual é, então? Por que alguns têm direito a essa escola pública de qualidade e outros não?
"Ah, ele não dá verdadeiro valor à educação! E eu, quando tinha sua idade, já dava". Analisemos esta fala. Em primeiro lugar, foi pronunciada por pessoas na faixa dos 40/50anos, criadas em outra época, com outros valores, em famílias de classe média, estruturadas (nem que fossem na aparência...), com papai, mamãe, comida na mesa, contas pagas... Esse menino tem 14 anos (constitucionalmente, o Estado lhe é devedor de educação!), vem de uma esfera social que, tenho certeza, nenhum de nós, seus professores, tem a menor ideia de como seja, e lhe negamos o essencial: uma escola pública de qualidade!
Estou triste e desencantada com os rumos que as coisas que vêm tomando no âmbito da educação. De que valem PISAs, provas, índices, se mais um menino foi excluído de um colégio que ele amava, sim?Nunca teve uma falta em minhas aulas, estava sempre às 7 horas em ponto na porta da escola para ali conviver boa parte de seu dia. Aprontava? E muito... Era difícil lidar com ele? E como... Mas ele tem potencial, é inteligente e poderia aprender a amar. Talvez agora, como disse Mandela, aprenda a odiar mais um pouco... Mais uma vez, escolhemos o caminho mais simples: eliminar a perturbação que o Outro (a diferença) nos causa...
Estou triste!
Um educador nunca se livra de um aluno-problema, que se assemelha àquela ovelha desgarrada e citada na parábola existente nos evangelhos.
ResponderExcluirPedro Mesquita